Crítica teatral do espetáculo "Sobre Caixas" por Dib Carneiro Neto
- Teatro Dori
- 22 de jun.
- 2 min de leitura
"E lá vem mais uma peça que usa caixas de papelão – dezenas delas – espalhadas pela cenografia. Será que ainda é possível fazer algo novo com esse material? Que alegria descobrir que sim. O grupo Teatro Dori (de Rio do Sul/Santa Catarina) surpreendeu a todos com a alta dose de criatividade aliada ao uso de caixas cenograficamente. O recurso do videomapping, em que projeções se “encaixam” nas superfícies do cenário (no caso, das caixas), também é usado de forma rigorosamente perfeita, tanto técnica quanto artisticamente. Uma surpresa incrível, que muito emocionou a todos neste festival.
Thyara Cristina do Nascimento Hirano está sozinha em cena, relembrando de episódios de sua infância e nos fazendo lembrar dos nossos próprios momentos saudosistas. Tudo é muito bem construído, sem pressa, sem ansiedades e com muito afeto. Ela é uma atriz expressiva, delicada, que inspira carinho e afeição. Escreveu o texto juntamente com a diretora do espetáculo, Sandra Coelho. Luxo dos luxos é ter no palco dois músicos, Rafael Parma e Ruan May, dedilhando suas cordas num refinamento musical de se tirar o chapéu. Outras produções certamente colocariam um “fundo musical” em playback, “economizando” os músicos ao vivo. Mas esse grupo catarinense demonstrou um requinte magnífico ao optar pela trilha ao vivo.
Há muitas cenas tocantes, impossível citar todas. Uma de minhas preferidas é a das caixinhas de fósforo que, quando abertas, deixam escapar sons relativos a pessoas que passaram pela vida da protagonista: pai, mãe, irmãos… As fotos projetadas nas caixas são parecidas com as que toda família acumulou em suas gavetas e álbuns, o que provoca empatia imediata da plateia com a proposta. Henrique Hirano, na técnica, faz tudo funcionar sem falhas. É surpresa atrás de surpresa.
A atriz é boa de conversa com as crianças na plateia. Sabe ouvir, sabe responder. Não pesa em nenhum momento. Contribui para essa harmoniosa relação a escolha certa de perguntas que são disparadas para o público: Quem aqui já pegou piolho? Quem aqui tem um melhor amigo ou amiga? Do que vocês gostam de brincar? Quem gosta de circo? São questões singelas, que deixam até os adultos com vontade de responder.
Sobre Caixas, mais do que peça de teatro, é um acontecimento teatral."




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